Sudaneses refugiados encontram abrigo no interior de São Paulo

25/03/2012 10:00

Sudaneses refugiados encontram abrigo no interior de São Paulo

Família alega ter sido expulsa de seu país por perseguição religiosa.
Amir Elgess, a esposa Miriam e duas filhas vivem em Cesário Lange (SP).

Amir e sua família visitaram a Polícia Militar da cidade (Foto: Polícia Militar/Cesário Lange)
 
O Brasil é conhecido pelo espírito hospitaleiro de sua gente e é o lar adotivo de pessoas de nações de todo o mundo. E foi aqui que uma família originária do Sudão encontrou abrigo após passar por perseguição religiosa em seu país. Há três meses Amir Elgess, sua esposa e suas duas filhas estão vivendo em Cesário Lange (SP).
Amir conta que levava uma vida estável como dono de um supermercado no Sudão e sua esposa era dona de um salão de cabeleireiro. Cristãos em um país de maioria muçulmana, passaram a ser perseguidos por agentes do governo – segundo seu relato.
A família sofreu pressão por sua opção religiosa. Certo dia, policiais invadiram a casa da família e espancaram Amir e Mariam. Ao final perguntaram se ainda iriam continuar sendo cristãos.
Mais tarde, o governo confiscou seus bens e os extraditou apenas com a roupa do corpo e pouco dinheiro. Amir e Mariam se viram obrigados a ir para longe de casa com as filhas Virônia, de 8 anos, e Djamiana, de 4 anos.
A primeira escala foi na Holanda, onde ficaram por poucos meses, pois não conseguiram se adaptar. Decidiram então partir para São Paulo, no Brasil, cidade que tem uma das maiores colônias árabes fora do Oriente Médio. Os sudaneses desembarcaram em outubro do ano passado na capital paulista. Eles foram acolhidos por uma ONG, e permaneceram na cidade por três meses.
O dono de uma granja em Cesário Lange, iraquiano e cristão – situação semelhante à dos sudaneses refugiados – decidiu ajudar a família e levou-os para o interior. Desde então eles estão acomodados em um sítio da zona rural onde Amir e Mariam trabalham como caseiros.
A família recebe suporte assistencial da Prefeitura. “Eles são muito esforçados para aprender a língua e percebemos que o que eles precisam é de um empurrão para se estabelecer de vez no Brasil”, conta Daniela Nunes Farias, coordenadora do Cras (Centro de Referência de Assistência Social).
A situação da família no Brasil está legalizada. Eles já têm visto permanente, RG, carteira de trabalho e cartão do SUS. Segundo Daniela, o desafio agora é encontrar um emprego para Amir na zona urbana. “Eles não estão conseguindo se adaptar direito no sítio. Pela água ser de poço as duas meninas estão tendo problemas intestinais e dores de barriga”.
Eles já estão conhecendo a nova terra. Nesta semana a família foi levada a um salão de cabelereiro. Ex-dona de salão de beleza, Mariam conta que cuidava muito do cabelo no Sudão mas que não conhece os produtos que estão disponíveis por aqui. A visita também serviu para todos cortarem os cabelos e as meninas pintarem as unhas. As crianças já estão freqüentando uma escola municipal. A família também fez uma visita à base da Polícia Militar da cidade.
Os assistentes sociais estão mobilizando as empresas que estejam interessadas em conseguir uma colocação para Amir e Mariam. Qualificação eles têm.”O Amir é formado em Psicologia e Mariam fez Contabilidade. Além disso o Amir fala inglês e holandês, além do árabe”, conta Daniela.
País dividido
Localizado na África, o Sudão tem uma história marcada por conflitos internos. A região norte tem maioria muçulmana, enquanto o sul tem população cristã ou animista e se sente discriminada com as tentativas de imposição da lei islâmica no país, já que a capital, Darfur, é localizada na região norte.
Em julho de 2011 a população do sul celebrou sua independência, resultado de um referendo. O Sudão do Sul nasceu rico em petróleo, mas subdesenvolvido.
Líderes do norte e do sul permanecem em constante contato, já que 3/4 das reservas de petróleo do antigo Sudão unificado ficam localizadas no sul, porém a mior parte dos oleodutos necessários para o escoamento da produção estão instalados no norte.
Amir e a família visitaram a Polícia Militar de Cesário Lange (SP). (Foto: Polícia Militar / Cesário Lange)