(Foto: Lílian Marques/ G1)
Em meio aos folões, trios, zoada e tudo mais que caracteriza o carnaval, Dona Cleonice Alves, de 84 anos, improvisou uma espécie de restaurante, onde vende uma autêntica feijoada baiana para os foliões e trabalhadores do carnaval no circuito Osmar (Campo Grande). Localizada na entrada da passarela por onde os trios entram, a tenda fica muita movimentada.
A técnica em enfermagem e cozinheira nas horas vagas Crispina do Santos, de 50 anos, não para um só momento. Chega cliente a todo instante. Ela é filha de dona Cleonice, que observa tudo, orienta e ajuda a filha com o comércio montado especialmente para o carnaval. "Aprendi tudo com ela [a mãe], o tempero é dela. Trabalho com isso no carnaval e tenho uma banca de acarajé em Lauro de Freitas, mas sou técnica em enfermagem em um hospital", disse.
foto ao lado da cozinheira baiana
(Foto: Lílian Marques/ G1)
A atriz paulista Michelle Mattiuzzi mora há cinco meses na capital baiana. Nesta terça-feira (21), ela almoçou com amigos no "restaurante" de dona Cleonice.
"Almocei aqui hoje pela primeira vez. É diferente de tudo, não só o comer, mas todo o contexto. É no meio do circuito, tem pessoas trabalhando, catando lata, mendigo dormindo aqui do lado, é uma muita informação. O trabalho informal é muito forte em Salvador", opina.
Dona Cleonice conta que a feijoada é baiana e vem completa. "Tem tudo, calabresa, pé de porco, carne, fato, é tudo completo. Uso o feijão carioquinha [marrom]. O segredo é o tempero, mas não posso contar", afirma. Ela mora em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, mas há dez anos, no carnaval, fica na casa da filha Crispina, na Federação, bairro bastante próximo ao circuito Campo Grande, para preparar o "feijão", como ela e quase todos os baianos chamam a feijoada.
De acordo com Dona Cleonice, além dos foliões, muita gente que trabalha no circuito aproveita para se alimentar no local. "É para dar aquela sustância. Vem gente do Gandhy, do Ilê Aiyê, da pipoca, o pessoal que trabalha nas televisões aqui. Tem muita gente conhecida já, que todos os anos passa por aqui", enumera.
Cada prato de feijoada, com carne, calabresa e o que mais o cliente escolher que tiver na panela, custa R$ 10. No nagê (um prato de barro um pouco mais fundo do que um prato comum), o valor é de R$ 20. O caldo do feijão sai por R$ 3 o copo. O cliente tem direito a farinha e pimenta "lambão", como diz dona Cleonice. Mãe e filha aproveitam para vender no "restaurante" refrigerante, água e cerveja por R$ 2.
para comer a feijoada de dona Cleonice
(Foto: Lílian Marques/ G1)
A enfermeira Márcia Gomes, de 36 anos, foi almoçar com os filhos e sobrinhos no "restaurante" de dona Cleonice. "É o melhor feijão que eu conheço aqui nessa região. Venho sempre aqui, gosto da feijoada e também do atendimento. Ela [dona Cleonice] é muito simpática e atenciosa com a gente, é todo um diferencial", disse.
Entre um trio e outro, dona Cleonice revela que queria mesmo era ver o cantor Roberto Carlos, que é o artista preferido dela. Mas como ele não faz parte da programação do carnaval de Salvador, a cozinheira tenta se lembrar do nome de um artista que gosta e que passou pelo Campo Grande nesta terça-feira.
"Cripsina, me lembre aí o nome daquele cantor barbudo que passou aqui mais cedo, aquele que eu gosto", pede a filha. Crispina demora a lembrar e pergunta: "Bell Marques, minha mãe, o do Chiclete com Banana?". "Sim, ele mesmo. Gosto dele, minha filha", completa dona Claudenice, dizendo que aproveita os seis dias de festa em que "acampa" no circuito para trabalhar e se divertir. "Eu gosto de ver, me sinto bem e alegre. Enquanto eu tiver saúde, eu venho acompanhar a minha filha aqui", conclui.
(Foto: Lílian Marques/ G1)