Fotógrafo que 'trocou' filha por tráfico dá palestras sobre drogas a jovens

12/05/2012 10:18

Fotógrafo que 'trocou' filha por tráfico dá palestras sobre drogas a jovens

Paulo Martins, de 56 anos, participa de ONG na cidade de Campinas.
Ele agenciava garotas de programa e cumpriu prisão no Carandiru.

 

Fernando Pacífico Do G1 Campinas e Região

 
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O fotógrafo Paulo Roberto Martins, em Campinas (Foto: Fernando Pacífico / G1 Campinas)
O fotógrafo Paulo Roberto Martins, em Campinas
(Foto: Fernando Pacífico / G1 Campinas)

O fotógrafo Paulo Roberto Martins, de 56 anos, não titubeia em contar o próprio drama familiar com quem encontra durante caminhadas por ruas do bairro Campina Grande, em Campinas (SP). Longe de qualquer clichê, os capítulos que poderiam render um livro transformam-se em palestras que alertam e motivam portadores do vírus HIV e dependentes químicos em todo o Brasil.

"Eu cheguei a deixar que a minha filha fosse adotada por conta das drogas, praticamente troquei. Tinha o sonho insano de que ela assumisse o meu posto no tráfico. As palestras ajudam a diminuir a dor, superar a saudade, pois não tem volta, nunca mais a encontrei", relembra. Durante um mês, ele participa de pelo menos 50 eventos, cujo público é formado por média de 40 pessoas.

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Registrar a felicidade
Martins conta que dedica-se a registrar casamentos e festas há cinco anos. Gosta de registrar a felicidade de uma criança ao assoprar as velas de mais um ano ou do gesto simbólico da troca de alianças. Em relação às palestras, ressalta a mensagem de prevenção. "Falo das consequências que os meus erros provocaram. Algumas partes deixo de fora por conta da idade do público", pondera ao citar que algumas palestras são destinadas à crianças.

Paulo ministra palestra sobre prevenção às drogas e HIV em Campinas (Foto: Arquivo Pessoal)
Paulo ministra palestra sobre prevenção às
drogas e HIV em Campinas (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 1999, ele deu início à superação do vício que já durava 43 anos, desde que teve a curiosidade de seguir os hábitos de um amigo que o acompanhava durante peladas em um campo de várzea. A escolha o levaria a acumular 12 anos de prisão, após ser condenado por tráfico de drogas. "Antes de chegar à ONG Esperança e Vida, pesando 30 quilos, passei inclusive pelo Complexo Carandiru. Foi terrível", resume.

Mulheres e Aids
A vida sem regras levou o campineiro a distanciar-se da família. Ele foi contaminado pelo vírus HIV no período em que agenciava garotas de programa na região de Santos (SP). "Entre 1980 e 1982, eu administrava uma casa com 19 mulheres, justamente quando os primeiros casos da Aids foram confirmados", explica.

Troquei a minha filha pelo tráfico"
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A descoberta da doença, todavia, levaria pelo menos 10 anos. "Após doar sangue, em 1996, recebi uma ligação do centro de saúde para refazer o teste", explica o fotógrafo. Revoltado com a notícia, Martins lembra que a palavra prevenção permaneceu excluída do cotidiano. "Era uma forma equívoca de culpar a sociedade pelo que eu tinha".

 

Redenção
Martins ressalta a importância da religão para superar o vício e não poupa elogios ao falar dos filhos Mateus, de 8 anos, e Daiane, de 34 anos. "Eles são fantásticos, graças a Deus saudáveis, é uma vitória depois de tudo que passei na vida", resume. Sobre anseios para o futuro, o fotógrafo emociona-se.

"Gostaria de ter muito tempo para fazer coisas boas para quem precisa. É a única maneira de tentar compensar o passado e pedir perdão pelo mal que fiz".

O fotógrafo Paulo Roberto Martins, em Campinas (Foto: Fernando Pacífico / G1 Campinas)
Ffotógrafo apegou-se à religião para superar vício  (Foto: Fernando Pacífico / G1 Campinas)