No Paraguai, brasileiros enfrentam problemas com posse de terras

24/02/2012 07:39

No Paraguai, brasileiros enfrentam problemas com posse de terras

Na maioria das áreas, há conflitos com os sem-terra do Paraguai.
Há casos também de impasses na justiça por duplicidades de títulos.

 

Do Globo Rural

 

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Na comunidade de Tapeporã, município de Mbaracayú, brasileiros disputam, na justiça, o direito de cultivar as áreas onde plantaram milho.

A empresa paraguaia Benita S.A. alega ser a verdadeira dona das terras e conseguiu uma ordem judicial que proíbe os brasileiros de entrar nas fazendas.

Desde o fim de janeiro, policiais estão na área e impedem que os brasileiros cultivem. É proibida a entrada de máquinas agrícolas e a pulverização das lavouras. Estradas rurais que cortam a comunidade e ficam na área foram bloqueadas.

O impasse envolve diretamente 30 famílias, a maioria brasileiros e descendentes que vivem no Paraguai. Algumas fazendas ficaram divididas entre a área em que é possível o cultivo e a área em que está proibida a entrada. É o caso de Rosemar Gloger, em 60 dos 230 hectares em que plantou milho, ele não pode entrar. “Plantamos e agora não podemos colher. Está complicada a situação".

Um dos sócios da empresa paraguaia Benita S.A, Gustavo Bogado, mostra o mapa da área e apresenta os títulos da terra e os impostos pagos. Ele reconhece que os títulos dos brasileiros são legítimos, originais e autênticos, mas argumenta que o deles também são legítimos com a diferença que o deles se refere a uma área de mil hectares. Segundo Bogado, os brasileiros avançaram sobre a área.

A cinco quilômetros da comunidade de Tapeporã, no município vizinho de Itakyry, a propriedade que também pertence a um brasileiro não tem problema com a justiça, com a polícia paraguaia ou com uma empresa que se diz dona das terras, mas sim com os campesinos, os sem-terra do Paraguai.

Desde janeiro, 80 famílias acamparam na área e impediam o plantio. Esta semana, a justiça expediu uma ordem de reintegração de posse. Com a escolta da polícia paraguaia, funcionários da fazenda derrubaram as barracas montadas pelos sem-terra. Depois, queimaram restos de madeira e de lonas.

Enquanto os policiais estavam na área, os empregados dos fazendeiros brasileiros se apressaram para plantar soja e sorgo na fazenda de 180 hectares.

A 220 quilômetros, mais ao Sul, no município de Ñacunday, agricultores brasileiros enfrentam um problema parecido. Milhares de sem-terra paraguaios montaram acampamento nas áreas deles.

Os problemas envolvendo brasileiros que migraram para o Paraguai nas últimas décadas estão concentrados, principalmente, em cinco estados paraguaios que ficam na faixa de fronteira com o Brasil.

Para tentar resolver o impasse, o governo paraguaio ofereceu uma outra área próxima, mas os sem-terra não aceitaram.